quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Experimentação animal: e eu com isso?


A experimentação animal tem proporcionado importantes contribuições para o desenvolvimento da ciência ao longo da história. A partir dos estudos anatômicos, iniciados ainda na antiguidade, começou um longo caminho de construção do conhecimento que caracteriza a evolução do saber científico.
Especialmente nas áreas da saúde e da vida, é difícil imaginar o desenvolvimento de novos produtos, técnicas e tecnologias sem o apoio da experimentação animal. No entanto, estes procedimentos só se tornaram possíveis em função de considerarmos os animais como um mero recurso a ser utilizado na consecução dos nossos objetivos.
Segundo René Descartes (1596–1650), importante filósofo francês, seria necessária a distinção do mundo natural (res extensa) e do mundo humano (res cogito). Enquanto o mundo natural ocuparia uma posição de objeto manipulável ou recurso disponível, o mundo humano representaria a esfera do subjetivo e do pensante, dotado de alma e raciocínio e, portanto separado do restante, caracterizando a condição humana como sendo algo distante da natureza e próximo do divino.
Entretanto, Charles Darwin (1809–1882) reabilitaria o homem como parte integrante do mundo natural ao propor a teoria da evolução das espécies. De acordo com esta perspectiva evolucionista o ser humano compartilharia boa parte das suas características com as diversas espécies animais, inclusive a sua capacidade de sentir, atribuindo assim aos animais a condição de seres sencientes.
A partir destas idéias, especialmente nas últimas décadas, tem se tornado cada vez maior a preocupação com relação às condições nas quais se desenvolve a experimentação animal.
No aspecto prático, sabe-se que animais isolados, com dor, medo, fome, sede, ansiedade, confusão mental, desconforto físico e desconforto ambiental apresentam importantes alterações nos seus aspectos fisiológicos, psicológicos e comportamentais, podendo comprometer seriamente os resultados obtidos a partir das pesquisas conduzidas em condições inadequadas.
No aspecto filosófico, cada vez menos é tolerado o desrespeito às condições adequadas de manutenção e utilização dos animais experimentais, pois tratando-se de seres sencientes, devemos lhes garantir condições dignas de vida e de morte.
Assim, o permanente questionamento ético e moral de nossas ações enquanto cientistas, tecnólogos, profissionais, consumidores e cidadãos é que poderá balizar as novas posturas da ciência na sua busca por um maior e mais amplo desenvolvimento.

Sérgio A. Bambirra, (Prof. do Setor de Fisiologia e Farmacologia e membro da Comissão de Ética em Pesquisa e Utilização Animal do DMV/UFLA 3829-1245).

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